segunda-feira, 14 de julho de 2014

Amamentação - quando tudo dá errado.

 Bom, não preciso nem dizer que, sendo pediatra, eu sei de todas as vantagens e benefícios que o aleitamento materno traz para o bebê. Que eu sei que o leite artificial, mesmo o melhor deles, não tem todos os nutrientes, na proporção adequada  e com a biodisponibilidade certa para o bebê. E nunca vai ter os anticorpos, tão importantes para prevenção das doenças, que a mãe passa do seu organismo, para o do bebê desde o primeiro contato. 
 E tem os fatores psicológocos também. Como o vínculo que se forma quando a boquinha do bebê se acopla perfeitamente ao seio materno. 
 O problema é que nem sempre dá certo...
 Quando o Vince nasceu, como eu já comentei, não tive muita ajuda na maternidade para posicionar o bebê. Eu tentava, pegava ele, posicionava do jeito que sabia ser o correto, prestava atenção em tudo: barriga com barriga, boca de peixinho, mão em C, etc, etc, etc... E o bebê, só chorava, desesperadamente, virava a cabeça, tentava escapar de mim... Uma luta. 
 Então, ele fez uma hipoglicemia (nível baixo de açucar no sangue) e teve que receber leite artificial, que ele aceitou super bem, conforme me contou a enfermeira. Quando a pediatra veio me ajudar a posicionar o Vince no seio, acho que ela ficou lá por quase uma hora, e nada, o bebê chorava que nem um maluco e ela só falava que se ele era ruim pra pegar, ela era pior que ele! Credo. Coitadinho do meu bebê....
 Recebi alta com o bebê sem pegar o peito, tendo feito hipoglicemia que só melhorava depois de tomar outro leite. Acho que é meio esperado que eu comprasse a primeira lata já no caminho da maternidade pra casa, né?!
 E assim foi, eu tentava em todas as posições, mas o bebê não pegava e todas as vezes que pegava, o fazia errado e começou a machucar todo o bico do peito. Meu marido olhava e falava: pra que isso? Ta todo mundo sofrendo, você, o bebê.... 
 Mas eu insistia, falava que sabia como fazer, que tinha que dar certo, mas sempre tinha que complementar com leite artificial, que ele aceitava tudinho e só depois dormia tranquilo...
Pra piorar, na noite do terceiro para o quarto dia pós-parto, eu fui dormir por volta da meia noite, numa boa, e acordei as 03h da manhã, com a apojadura plena!!! Meus seios estavam imensos, duros, muito doloridos. Confesso que fiquei desesperada!! Meu bebê não mamava quase nada, como iria dar conta de tudo aquilo?
 Quando ele acordou pra mamar, tentei colocar no peito, mas estava tão túrgido que ele não conseguia abocanhar, eu tirei, tentei ordenhar um pouco, mas com isso, o bebê ficou estressado por que estava demorando e abriu um berreiro gigante, e eu, nervosa também, comecei a chorar... 
Meu marido acordou, falou que não aguentava ver todo mundo nervoso e sofrendo e chorando, me acalmou, ninou o bebê enquanto eu fazia a mamadeira. O bebê mamou tudinho, arrotou e voltou a dormir. Só eu que não dormi. Triste porque tudo estava dando errado e também porque mal conseguia me mexer de tanto que doiam meus seios...
 No outro dia, a primeira coisa que fiz foi entrar em contato com o banco de leite da cidade. Afinal, foi isso que eu aprendi exaustivamente durante a minha Residência em Pediatria: problemas com a amamentação? Encaminhe para o Banco de Leite. 
 De tanto insistir, consegui o último horario naquele mesmo dia. Ainda tentei várias vezes colocar o bebê ao seio ao longo do dia, mas ele sugava pouco, abocanhava errado e chorava muito. E eu, tinha espasmos de dor, cada vez que ele tentava sugar....
 No horario marcado, fui até o Banco de Leite. As funcionarias, que me receberam e não se identificaram, me levaram a uma salinha, colocaram o Vince num bercinho ao lado da maca que ficava encostada na parede, onde me sentaram e disseram: encosta bem. 
Comecei a ficar um pouco nervosa, mas encostei as costas toda na parede. Elas pediram para que eu tirasse a blusa, e depois abriram meu sutien de amamentação, então falaram: ih, já está empedrando tudo. Vamos ter que tirar.
 Ok. Era isso que eu queria, mas nunca imaginei que seria daquele jeito.
 Cada uma pegou uma barra de gelo em cada mão, e começaram a, literalmente, espremer os meus seios com as barras de gelo. 
 Assim que elas começaram, doía tanto que meu cérebro pareceu congelar, eu tentava me afastar, colando as costas na parede e pensava: mas era isso que eu via na Residência? Foi isso que eu aprendi?? 
 Não sei quanto tempo durou, só sei que quando pararam, meu seios já tinham alguns pontos de hematoma. Elas pegaram meu bebê e foram tentar fazer ele mamar. Nessa hora, as lagrimas começaram a escorrer pelos meus olhos. Eu queria fugir desesperadamente dali. Elas tentaram, tentaram, o bebê não pegou, elas olharam o relógio, disseram que era hora de fechar, pra qualquer coisa, eu ligar pra marcar horário de novo. 
 Fui embora. Nunca mais voltei. 
 A noite, quando fui tomar banho, depois de outras tentativas, sem sucesso de fazer meu bebê mamar, meus seios doíam tanto que eu mal conseguia tocá-los. Saí do banho, sentei na cama, enrolada na toalha e chorei copiosamente, sem saber o que fazer, sem saber a quem recorrer.... 
Meu marido me abraçou e falou que nunca mais queria me ver sofrer daquele jeito. Procuramos vídeos de ordenha manual no youtube (isso mesmo, no youtube!) encontramos os da Sociedade Brasileira de Pediatria e de Ginecologia e Obstetrícia. Nenhum mostrava aquela sessão de tortura a qual eu fui submetida. Ele me ajudou e ordenhamos tudo durante horas, até melhorar.... 
 Desde aquele dia, não ofereci mais o peito ao meu bebê, não tinha condições físicas nem psicológicas para amamentar. 
 Deus me deu a graça de ter um bebê muito saudável, que mesmo não tendo mamado ao seio, nunca fica doentinho e eu agradeço à Ele todos os dias. 
 Hoje, eu uso minha experiência para preparar as mães para a amamentação, pra falar o quanto é importante os dias passados na Maternidade para aprender a cuidar do bebê e descobri que a prática pode ser bem diferente e muitas vezes, bem mais complicada, que a teoria. 

3 comentários:

Andrea disse...

Má, peloamordedeus, que sofrimento!!!! Eu estou considerando contratar uma enfermeira que trabalha junto com a minha GO para um curso de amamentação pré e pós parto. O que vc acha disso? Fico apavorada tb com essa história de amamentação...
Um beijo!

Unknown disse...

Dea, se você tem como fazer isso, acho super valido! Acho que para o pré parto não é tão necessario, é só você se informar bem, preparar as mamas, com o banho de sol e a esponja vegetal, bem de leve. Agora, no pós é que o bicho pega, nessa hora, quanto mais ajuda, melhor! Bjos.

Andrea disse...

Achei que a esponja vegetal era um mito... hahahaha! O banho de sol não dá pra fazer por causa da herpes zoster, que me deixou com cicatriz no seio e tenho que evitar a luz solar, mas iniciarei hoje a buchinha! Seu blog é um sucesso, sabia? Bjs!